19 de fevereiro de 2010

Plano Diretor sem revisão, e agora? (Jorge Wilheim)

A recente cassação de vereadores de São Paulo, em primeira instância, por terem recebido de 20% a 70% dos recursos de campanha de uma empresa (AIB), aparentemente inativa, porém fortemente vinculada ao Secovi, o sindicato das empresas do mercado imobiliário, deveria acarretar o adiamento ou cancelamento das discussões e da votação do Projeto de Lei (PL) nº 671/2007, que versa sobre a revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE) - Lei nº 13.430, de 2002.
A redação do parecer, elaborado pelo vereador Police Neto, não pode alterar essa situação constrangedora, além do que seu extenso texto passa ao largo de todas as alterações do plano, nitidamente beneficiando o setor imobiliário.
O parecer termina pela aprovação do PL, porém transformado em substitutivo, em decorrência de eventuais debates em plenário que levem em consideração as diretrizes conceituais novas apresentadas pelo parecerista, revogando-se o plano vigente desde 2002.
Com efeito, é provável que o prefeito Gilberto Kassab, mais sensível do que seu antecessor, assim como os demais vereadores levem em consideração o acréscimo de resistência da mídia e das 180 entidades da sociedade civil - entre as quais o Defenda São Paulo, o Movimento Nossa São Paulo, o Polis e outras de igual prestígio - que se manifestam de forma precisa e homogênea contra as profundas alterações que o PL pretende fazer no Plano Diretor vigente, acusando essa revisão de apenas beneficiar o setor mais voraz do mercado imobiliário.
Esses aspectos nocivos à cidade foram explicitados pelas entidades em reunião da Comissão de Urbanismo da Câmara Municipal: a inexistência de qualquer avaliação do plano vigente, a fim de justificar as revisões propostas; a retirada arbitrária de todas as diretrizes de longo prazo: sociais, econômicas, culturais, segurança, de abastecimento, educação e saúde, reduzindo o plano a uso de solo, ambiente e sistema viário; a retirada das macroáreas em que se determinam, para cada setor da cidade, as características de preservação, contenção, qualificação de urbanização consolidada, expansão com estruturação, as quais orientam a Lei de Uso do Solo, abrindo-se destarte a perspectiva para alterações arbitrárias do zoneamento.
Cumpre informar que o parecer do relator e a Prefeitura mencionam reuniões públicas realizadas, porém não informam o fato de que em nenhuma delas se apresentou, artigo por artigo, o que se propunha alterar ou mesmo retirar, tornando ineficaz o seu debate.
Por esses motivos as entidades sugeriam que a Câmara devolvesse o texto da revisão ao Executivo para que este procedesse a uma reformulação.
No entanto, permiti-me, na ocasião, outra observação que agora torno pública. O PDE foi elaborado para uma vigência de 2002 a 2012.
Durante os anos de 2010 e seguintes poder-se-ia iniciar a prévia avaliação, e não passar a construir o próximo plano.
Mormente nas atuais circunstâncias, em que, independentemente da manutenção ou do cancelamento da cassação, boa parte da Câmara permanecerá sob o manto da suspeição de estar vinculada aos interesses do setor mais voraz do mercado imobiliário.
A fim de ir além do já determinado pelo inovador plano vigente e supondo que nos próximos dois anos haverá tempo para regulamentar importantes artigos existentes - assim como implantar os corredores de ônibus planejados, porém ainda faltantes, completar a construção dos restantes CEUs da periferia, ampliar a rede integrada de transporte público -, vejam, por exemplo, quantos temas surgidos nos últimos anos poderiam enriquecer o novo PDE:
Rever a legislação de transferência de potencial construtivo e proceder à normatização da densidade de veículos privados, como medidas de contenção edilícia, a fim de estancar o afogamento do trânsito no sistema viário, que já não corresponde ao volume de construção permitido;
criação da rede de infradutos, melhorando a manutenção das redes e a paisagem urbana;
elaboração e implantação dos planos de bairros, valorizando as referências locais e os pontos de encontro;
aumento do poder dos subprefeitos e implantação dos conselhos de representantes;
integração do Plano Diretor a um plano da macrometrópole, a fim de criar uma região urbanizada de São Paulo, com polos e núcleos interligados que implantem um novo modelo de vida urbana;
ampla cobertura de ilhas digitais e telecentros;
implantação de um Plano de Transporte de Cargas, criando-se os centros de transferência intermodal de cargas na proximidade das rodovia;
elaboração do Programa Municipal de Mudanças Climáticas e implantação de suas ações estratégicas;
alterações de gestão que instituam a prática de redes sociais público-privadas;
invenção e modificação da tecnologia de tratamento de esgoto;
implantação do programa de mobiliário urbano.
Menciono os exemplos acima para comprovar que a cidade ganharia se substituísse a proposta de revisão do plano vigente pela elaboração e discussão de subsídios para o próximo plano, abrindo a oportunidade para amplo debate até 2013.
Valeria a pena, contudo, não perder alguns artigos de caráter ambiental, desdobramentos úteis e bem formulados do plano vigente e constantes do atual projeto de lei da revisão; eles poderiam ser objeto de um documento próprio a ser aprovado pela Câmara.
Informo, ainda, por pertinente, que no Movimento Nossa São Paulo já iniciamos um processo de estudo e debate do que poderia ser a São Paulo de 2022, ano-meta do próximo Plano Diretor, assim como ano de comemorações do bicentenário da Independência e do centenário da Semana de Arte Moderna...
Jorge Wilheim é arquiteto e urbanista. E-mail: jorge.Wilheim@jorgewilheim.com.br

Vamos incentivar a leitura...

Livros de qualidade comprovada enviados até sua casa pelos correios, com uma carta selada para devolução, com custo zero?
Sempre escutamos as pessoas dizerem: "não leio porque não tenho tempo", "é muito caro", "não sei escolher no meio de tanta opção", e por aí vai.
Os livros do Luar na laje são de graça, não passam de 180 páginas, o prazo é esticado e são bons, muito bons.
Mas, por mais que se divulgue, o número de interessados é ínfimo.
No momento, são nove títulos à disposição. Poucos? Sim. Porém, nem esses nove conseguem leitores.
Vale a pena consultar os títulos e indicar o blog para demais interessados.
Já solicitei um dos títulos e funciona (Ros Mari).
Saibam mais em:
http://kaupatez.blogspot.com/2010/02/luar-na-laje.html
http://luarnalaje.blogspot.com/
Diogo Kaupatez (responsável pelo blog)

13 de fevereiro de 2010

Todo cuidado é pouco com nossos legisladores quando se trata de defender o patrimônio de nossa cidade

No dia 10/02/2010, o jornal O Estado de São Paulo publicou a matéria Vereador pede CPI para rever tombamentos - Requerimento questiona atuação do Conpresp; Centrão apoia comissão
Temos que acompanhar de perto esse pedido de CPI no CONPRESP, que é uma faca de dois gumes.
Existe forte intenção de alguns vereadores de acabar ou enfraquecer o Departamento de Patrimônio Histórico do Município e o Conpresp e temos que tomar muito cuidado para que isso não aconteça (ainda que se possa ter críticas pontuais à ação do Conselho e o Mover as tem).
A revisão, pela CMSP, dos tombamentos já efetivados (ou dos processos de tombamento abertos) é o que move esse tipo de articulação desses vereadores, que atende a interesses específicos, com graves riscos para a cidade.
O vereador Toninho Paiva, que representa a Câmara no Conpresp, foi um dos conselheiros que votou pelo tombamento parcial do complexo fabril da Melhoramentos e ratificou essa sua posição em programa veiculado pela TV Câmara do qual o Mover participou. Seus compromissos passam longe dos interesses maiores da cidadania.
Os lobbies que atuam em favor da especulação predatória e contra os interesses maiores da cidade, continuam em busca de estratagemas e atalhos para poder fazer valer seus objetivos (vide os recentes decretos do prefeito criando grupos de trabalho para auxiliar os Comitês de Mudança do Clima sem participação nenhuma dos movimentos da sociedade civil organizada).
Precisamos nos manter atentos para defender o DPH e o Conpresp e contribuir para aperfeiçoar e dar transparência a seus procedimentos e decisões.

Matéria do Estadão (12/02/2010)

Vereador pede CPI para rever tombamentos
Requerimento questiona atuação do Conpresp; Centrão apoia comissão

Diego Zanchetta, Fabio Leite

Com a assinatura de 18 dos 55 vereadores de São Paulo, um requerimento apresentado ontem pelo vereador Aurélio Miguel (PR) propõe uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar decisões do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp) e a situação dos 1.832 imóveis tombados ou em processo de tombamento. Se aprovada por 28 votos, a CPI poderá questionar as decisões do órgão.
Oito conselheiros integram o colegiado permanente, entre eles o vereador Toninho Paiva (PR). Em cinco anos, o conselho congelou novos empreendimentos em áreas nobres como Ipiranga, Aclimação e Mooca. O mercado imobiliário, que financiou a campanha de 29 vereadores, defende a revisão desses tombamentos. O Centrão, bloco formado por PMDB, PR, PV, PTB e DEM, já se manifestou favorável à CPI.
O requerimento tem em anexo reportagem do Estado, de 3 de julho, que mostra decisão judicial para demolição de um condomínio residencialconstruído em área tombada na Avenida IV Centenário. "Queremos apurar a atuação do Conpresp. Situações como essa se repetem em vários locais", disse Miguel.
O relatório da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal que mirou a Camargo Correa, encontrou indícios de corrupção no Conpresp. Um manuscrito apreendido na casa do executivo Pietro Bianchi indicava supostos pagamentos a Antonio Carlos Rodrigues e Toninho Paiva, além do secretário de Habitação, Elton Santa Fé. Os valores se referem à construção de um empreendimento residencial no Tatuapé. Eles negam.
O Conpresp informou que estará à disposição da comissão. Paiva não foi encontrado.

12 de fevereiro de 2010

Vamos de mal a pior....

Vereadores instalam comissões permanentes da Câmara Municipal de São Paulo

A Câmara Municipal de São Paulo instalou nesta quarta-feira (10/2) as sete comissões permanentes existentes na Casa, com algumas alterações em relação aos nomes dos integrantes do ano passado. Entre as mudanças mais significativas está a saída de Carlos Apolinário da Comissão de Política Urbana para integrar a Comissão de Administração Pública. O posto de presidente da Comissão de Política Urbana foi ocupado pelo vereador Domingos Dissei (DEM), que é dono de uma construtora, a Dissei Engenharia.

8 de fevereiro de 2010

Complexo Fabril Melhoramentos -comunidade da Vila Romana (Lapa) luta pelo tombamento integral e envoltória de proteção












Anexo fotográfico inserido nos ofícios encaminhados ao Conpresp (Presidência, Vice-Presidência e Conselheiros) e ao Ministério Público (ver matéria neste blog) - créditos das fotos: Mover Lapa (out 2009).






6 de fevereiro de 2010

Fábrica Melhoramentos - Comunidade luta pela revisão da decisão Conpresp de tombamento parcial e envoltória - andamento















Fotos: Ato Público - Abraço aos galpões da Fábrica Companhia Melhoramentos (Vila Romana, Lapa) em 03/10/2009 (créditos: José Trindade Celis e Diogo Dallanese Junior)
Nosso blog já publicou (procurar no marcador Fábrica Melhoramentos) a íntegra do ofício encaminhado ao Ministério Público (Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Capital - PJMAC), em 23/09/2009, sobre a reivindicação de revisão da decisão do Conpresp de tombamento parcial e envoltória de 10 m deste complexo fabril da Vila Romana, da Lapa, da cidade e do Estado de São Paulo.
Esse mesmo ofício foi encaminhado à presidência do Conpresp, em 29/09/2009, na pessoa do Dr. José Eduardo de Assis Lefèvre, com cópias para o Dr. Walter Pires, vice-presidente do Conpresp e Diretor do Departamento do Patrimônio Histórico - DPH e para cada um dos conselheiros que, na 458a. reunião do Conselho, em 28/04/2009, votaram pelo tombamento parcial, a saber: Sr. Claudio Salvador Lembo (Secretaria de Negócios Jurídicos), Sr. Miguel Luiz Bucalem (Secretaria de Desenvolvimento Urbano), Sr. Elton Santafé Zacarias (Secretaria Municipal de Habitação), Sr. Marcelo Manhães de Almeida (Ordem dos Advogados do Brasil), Vereador Toninho Paiva (Câmara Municipal de São Paulo) e Sr. Vasco de Mello (Instituto dos Arquitetos do Brasil). Cabe frisar que a Presidência do Conpresp também foi favorável ao tombamento parcial e a vice-presidência favorável ao tombamento parcial com diretrizes. O Sr. Dácio Ottoni (CREA) não esteve presente à reunião (informações obtidas de ata de reunião do Conpresp, inserida no volume IV do IC 274/08 a cargo da 4a. PJMAC - fls. 601).
Foram signatários do ofício: Mover Lapa, Movimento Defenda São Paulo, Conseg Lapa, Nal Vila Romana, Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção São Paulo, Associação Preserva São Paulo e três membros do Cades Lapa.
O documento assim finalizava:
"Considerando: (1) a importância do Patrimônio Industrial para a cultura, a memória e a história de um povo; (2) a significação da cidade de São Paulo para a industrialização do país; (3) em particular, o papel da Lapa (juntamente com outros bairros tais com o Brás, a Móoca e o Ipiranga) naquele processo; (4) que o patrimônio industrial mostrou-se, no caso da Lapa, em harmonia com as aspirações mais amplas e legítimas da população local por uma melhor qualidade de vida e de bem-estar na comunidade (as fotos explicitam isso com clareza); (5) o valor histórico e a importância desse patrimônio industrial e (6) a possibilidade de contestação da decisão do Conpresp..... , a sociedade civil vem, por meio de seus movimentos de cidadania, solicitar que os Conselheiros do Conpresp revejam a decisão de tombamento parcial e de envoltória da Fábrica Companhia Melhoramentos, deferindo a preservação original total do imóvel e envoltória maior, solicitando, também, que medidas urgentes e eficazes sejam tomadas para sustar eventuais investidas para a demolição do restante da quadra - galpões da fábrica".
Os movimentos de cidadania solicitaram, também, em 19/10/2009, reunião com a Presidência do Conpresp e 15 minutos para que as entidades signatárias do documento apresentassem suas reflexões, em reunião do Conselho (já que tais reuniões são fechadas à participação da sociedade civil), sobre o tombamento parcial e explicitassem aos membros do Conpresp sua opinião sobre eventual destinação a ser dada a este complexo industrial (no blog temos alguns exemplos de reconversão do patrimônio fabril).
A solicitação foi levada ao Conpresp pela presidência do Conselho. Os conselheiros acataram a sugestão, faltando apenas marcar as datas.
Porém, infelizmente, desde outubro de 2009, não obtivemos nenhum retorno.
Por esse motivo, solicitamos, em 26/01/2010, a intervenção do Ministério Público para que ajude os movimentos de cidadania a marcar essas duas reuniões, onde as entidades terão a oportunidade de explicitar, de viva voz, seu entendimento sobre o tema em pauta.
Na última sexta-feira, 05/02/2010, recebemos um comunicado do Ministério Público (PJMAC), repassando-nos o conteúdo de ofício do Departamento do Patrimônio Histórico, respondendo aos questionamentos da Promotoria quanto à decisão sobre a contestação protocolada pelas entidades da sociedade civil.
Esta foi a resposta do Conpresp:
"Em atenção ao Ofício em epígrafe que, juntamente com o Oficio n° 3831/09
endereçado ao Conpresp, visa instruir o PPIC 277/09, sobre revisão da decisão de tombamento parcial pelo Conpresp das edificações da CIA. MELHORAMENTOS DE SÃO PAULO, localizada na Rua Tito no. 479, em que V.S. solicita cópia da decisão sobre a contestação protocolada, temos a informar que:
1) Após a publicação no DOC da Resolução 05/Conpresp/2009 que tombou
várias edificações situadas na Subprefeitura da Lapa, em 16.09.2009,
foram interpostas três contestações, duas em 30.09.2009, em nome do
Movimento Defenda São Paulo e da Associação dos Geógrafos do Brasil-
Seção São Paulo, e uma em 29.09.2009 em nome de Saint-Gobain do
Brasil Produtos Industriais e para Construção Ltda.
2) As contestações tramitam no Processo Administrativo 2008-0.190.016-2,
que se encontra neste momento em análise técnica e jurídica neste Departamento para em seguida serem submetidas ao Conpresp.
Pelo exposto, não temos por ora como atender à solicitação de V.S., para o que
nos colocamos à disposição em futuro breve".
Aguardem novas informações!!






3 de fevereiro de 2010

Entrevista do arquiteto Frank Gehry

Vejam a entrevista do arquiteto e urbanista Frank Gehry, publicada na Folha de São Paulo de domingo (07/02), no caderno +MAIS!

Atenção para os destaques do Mover em vermelho!

O urbanismo está morto. É o que afirma o polêmico arquiteto Frank Gehry, que recusa o rótulo de "starchitect" e diz que sempre fez projetos ecologicamente corretos.

MIGUEL MORA Ele chega trajando preto rigoroso e, com um sorriso irônico, se submete por 40 minutos à tortura de uma entrevista com vários jornalistas. Em um dado momento, uma entrevistadora corajosa solta a palavra proibida, "starchitect" (arquiteto estrela), e Frank O. Gehry, do alto de seus 80 anos (nasceu em Toronto em 1929), se irrita. "Não sou um "starchitect'! Sou apenas um arquiteto. E sabem quem inventou essa m... de palavra? Um jornalista." Seu processo de experimentação é uma viagem que mistura arte e artesanato, tecnologia de ponta e tradição, adaptação metafísica ao meio, imaginação, solidez e elegância. Nos últimos meses, a crise prejudicou alguns de seus projetos, como o do aeroporto de Veneza -"isso significa que nunca vou fazer nada na Itália"- ou seu plano de urbanismo para o Brooklyn [em Nova York, nos EUA], e Gehry foi obrigado a despedir metade dos 220 profissionais que tinha em seu estúdio. Ele revela o fato com voz triste, amargurada. Como se esta nova época de austeridade forçada não combinasse com sua grandeza sinuosa -às vezes grandiloquente- e sua ambição de deixar em cada obra algo definitivo, um ícone. O talento do arquiteto/inventor/artista/construtor é assombroso. Sua maneira de sonhar a obra a partir do nada, como um pintor diante da tela vazia, é emocionante, com suas homenagens ao cubismo, à "arte povera" [arte pobre, movimento italiano dos anos 1970] ou ao construtivismo. Mas alguns já disseram que esse novo estilo nascido em Bilbao (embora o Disney Hall de Los Angeles seja anterior) retorna em todo lugar, infiltrando-se quase sem querer, e talvez o leve a admitir alguma imitação aparente ou a copiar a si mesmo diretamente -como ele próprio assinala. Outro pensamento capcioso: a obra recente do Prêmio Pritzker de 1989, ao ser vista em conjunto, define em um só olhar uma era: a dos disparates financeiros, o tempo do excesso, do novo-rico e do edifício-marca. Talvez esteja faltando um segundo olhar. O "efeito Bilbao" seria só um lance de efeito? Um álibi para favorecer a especulação? A estratégia de marketing de um "starchitect"? O tempo já deu sua resposta: não. E Gehry a sublinha com dados, e sem cair em falsa modéstia: "Doze anos depois, o museu Guggenheim de Bilbao recebe 1 milhão de visitantes por ano e é uma máquina de ganhar dinheiro. Custou US$ 97 milhões e ainda não caiu". O que talvez seja mais importante é que o colosso do [rio] Nervión continua a sugerir todo tipo de leitura e emoção a seus visitantes. Alguém já o comparou com Dom Quixote galopando em direção a um horizonte incerto. As placas voadoras, os tetos curvos, os espaços imensos... Os edifícios de Gehry, contrariamente ao que se poderia imaginar, não nascem de fora, mas por dentro e se projetam para fora, com a ambição de criar não apenas arquitetura, mas urbanismo. Talvez a poética do excesso de Gehry seja, no fundo, uma crítica desse excesso? "Os tempos do excesso acabaram", responde Gehry, sem ocultar sua tristeza. "Acabou-se o desperdício, e é preciso enfrentar esse desafio. Não sei se isso é bom ou ruim, mas é o que há. É preciso poupar energia e dinheiro. Fazer arquitetura verde. Agora tudo precisa ser verde. E isso é real, porque senão estaremos mortos." E prossegue, embalado e se gabando: "Enfim, eu já passei por isso: nos anos 1960, fiz arquitetura verde, ecológica. Meus clientes não tinham recursos e eu fazia casas e escritórios baratos, para a classe média. Adaptei minha arquitetura aos seus recursos. Para mim, toda mudança é instigante; gosto de desafios". "Haverá colegas que pensarão diferente, é claro. Será interessante ver o que fazem. O verde se converteu no álibi de muitas pessoas sem talento." "Mas não serão os arquitetos sem talento que vão resolver o problema. Eu já falava em poupar energia nos anos 1960, quando usava cachecol e cabelos compridos. Agora dizem que a arquitetura é menos importante do que o verde. Mas o mundo é para as pessoas. E as pessoas precisam de arte, precisam de música."
PERGUNTA - O perigo é que a ecologia se converta em assunto político? FRANK GEHRY - Talvez a solução seja legislar melhor para poupar energia. Mas cada indivíduo pode fazê-lo por si só, com precisão. Ed Begley Jr., o ator, vive de maneira totalmente verde. Recicla urina e fezes, come legumes da horta, anda sempre de bicicleta, não tem carro... É um modelo a seguir. Todos deveriam imitá-lo. E o governo do Brasil deveria deixar de derrubar a Amazônia, e alguém deveria inventar um sistema barato para converter a água do mar em água potável, e todos nós deveríamos aprender a viver mais modestamente, gastando menos e deixando de ter dois carros. Mas apenas se as sociedades se engajarem mais é que vamos obrigar os governos a promover políticas mais sustentáveis.
PERGUNTA - Diria que seus museus e salas de concertos são verdes?
GEHRY - Isso depende do cliente e do lugar. A Louis Vuitton, por exemplo, queria que o edifício fosse obrigatoriamente de cristal. E a cidade não aceitava o edifício a não ser que fosse verde. É difícil fazer um museu verde de cristal. Isso só é possível em Paris. Em Bilbao, por exemplo, tínhamos o rio próximo a uma cidade do século 19, uma ponte gigantesca e uma capital deprimida devido à crise da indústria do aço e dos estaleiros. Por isso, usamos aço para ajudar a economia local e buscamos uma liga de titânio, porque em Bilbao chove muito e o titânio, em contato com a água, fica com a cor dourada, é um milagre. Mas nem tudo depende do arquiteto. As galerias de exposição em Bilbao foram feitas sob a supervisão de Tom Krens [então diretor da Fundação Guggenheim], e a sala de baixo sempre me pareceu grande demais. Queria dividi-la e tinha um sistema pensado para fazê-lo, mas ele insistiu e eu fiquei muito aborrecido.
PERGUNTA - Por que o sr. acha que o museu funcionou?
GEHRY - [A curadora] Carmen Giménez, que é extraordinária, fez exposições maravilhosas, como a de Cy Twombly. Num primeiro momento, disseram que não funcionaria. Mas os artistas que expõem ali adoram. Em Toronto foi muito diferente. Fizemos salas brancas, minimalistas, mas com coração.
PERGUNTA - E o Guggenheim de Abu Dhabi, será verde?
GEHRY - Bem, eles [os Emirados Árabes Unidos] estão tentando criar uma cultura nova, entrar no mundo. Eram um povo isolado e nômade, mas mandaram seus jovens para as melhores universidades do mundo, e agora querem estar no mesmo circuito que Paris e Nova York. Eles têm os recursos necessários, dizem que Deus os deu a eles. Tom Krens está trabalhando nisso e vai fazer uma coleção muito internacional. Curadores de todo o mundo já foram para lá, alguns judeus e outros antissemitas declarados, e não houve problemas. Haverá artistas maravilhosos, alguns africanos, por exemplo. Eles não vivem apenas no deserto. Têm acesso à Europa, à Ásia, ao Ocidente. É um projeto um pouco volátil, mas talvez funcione bem.
PERGUNTA - O sr. gosta da globalização?
GEHRY - Ela é inevitável e interessante. O mais interessante que está acontecendo agora é o casamento inter-racial. É muito instigante ver como as culturas se misturam em novas famílias. Nós, arquitetos, também chegaremos a isso. Quando você tenta parar algo que já está em andamento, é impossível. Uma amiga minha está muito preocupada porque uma empresa médica usa camundongos. Ela deveria é ir viver em outro planeta.
PERGUNTA - O sr. acha que será lembrado como um radical?
GEHRY - Por acaso [o arquiteto britânico Norman] Foster é um radical? [O arquiteto holandês Rem] Koolhaas, sim, mas não sei se isso é importante. Alguns possuem a capacidade de fazer experimentos, e outros, não, e também não os podemos culpar por isso.
PERGUNTA - O sr. se considera um "starchitect"?
GEHRY - Sempre haverá arquitetos caros e técnica e financeiramente ruins. Mas, para construir o Guggenheim de Bilbao, fiz um orçamento de US$ 100 milhões e terminei a obra com US$ 97 milhões [R$ 181 milhões]. Doze anos depois, ela continua ali, e a manutenção não é difícil. No Disney Hall (sala de concertos em Los Angeles), gastamos US$ 215 milhões, e o orçamento inicial era de US$ 207 milhões. E tampouco está caindo. Cinco anos depois, continua funcionando. Muitas pessoas identificam Bilbao e Los Angeles com esses edifícios.
PERGUNTA - Não acha que os arquitetos pensam demais em suas construções e se esquecem das cidades?
GEHRY - O urbanismo está nas mãos das corporações de construtores, nas grandes empresas de tijolos... Nós somos arquitetos e servimos aos clientes. Eles nos convidam; não podemos chegar e nos impor. As grandes firmas não chamam arquitetos -elas têm seus arquitetos próprios. Tentei fazer isso no Brooklyn, mas fracassei. Seria preciso continuar tentando. Eu queria fazer um plano de cidade escolar, e não saiu. O urbanismo está morto nos EUA. E nós, arquitetos, não contamos para nada. É preciso mexer demais com política. E, às vezes, isso não dá certo. Foster vai fazer urbanismo em Abu Dhabi. Quando tiver terminado, estaremos em cadeiras de rodas. Ele está tendo problemas. Seu sonho era dez vezes melhor do que aquilo que está nas plantas.
PERGUNTA - É possível ser arquiteto e artista ao mesmo tempo?
GEHRY - Adoro Cervantes e Lewis Carroll; meus melhores amigos são os artistas. Rauschenberg, por exemplo [o arquiteto italiano Renzo Piano, um dos autores do projeto do Centro Georges Pompidou, em Paris, entra na sala]. E Renzo Piano é o melhor arquiteto do mundo. Rarará. Os edifícios públicos também são uma forma de urbanismo. As cidades precisam ter ícones. Bibliotecas, hospitais, museus. Daqui a cem anos, as pessoas os verão e dirão: "O que é isso?" E pensarão: "É arte".

A íntegra deste texto saiu no "El País". Tradução de Clara Allain.

Reunião Pública sobre enchentes e temas relacionados

Informe de interesse - quem puder, compareça!!
Local: Rua Riachuelo, 115 - Auditório Queiroz Filho - 19/02 (mudou a data) - Ministério Público
A Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo promoverá, no dia 10 de fevereiro uma reunião pública cujo tema será a situação crítica das enchentes na cidade e assuntos relacionados. É uma iniciativa de vanguarda no tratamento de questões de interesse social, e na aproximação entre a atuação do Ministério Públicio e a sociedade. Não será audiência pública! Não será aberta palavra aos presentes. Mesmo assim, é essencial a presença de todos, para atestar a postura dos responsáveis das secretarias relacionadas ao tema!
No perído da manhã (9 às 11:30), técnicos da Prefeitura e do Estado responderão publicamente às perguntas formuladas pelos Promotores, na tentativa de explicar quais as falhas que nos levaram às calamidades e mortes no último mês. Durante a tarde (13:00 às 15:30), serão ouvidos, publicamente, técnicos não vinculados à Administração Pública, convidados pela Promotoria, na tentativa de confrontar as informações apresentadas pelos funcionários do Executivo. É a primeira oportunidade como esta que temos em São Paulo porque haverá confronto de informações pessoal e publicamente, o que pode ser um meio de assegurar a eficiência e confiabilidade, já que, quando prestadas por escrito, em ofícios ou ações judiciais, normalmente há margem para evasões e desvirtuamento (como dizem, "o papel aceita tudo").
Divulguem aos demais parceiros de luta pela cidade. É muito importante a presença da sociedade civil organizada.

Reflexões do Mover sobre matérias publicada no Estadão de 03/02 - Plano Diretor

Reflexões do Mover sobre matéria publicada no Estadão de 03/02 - Plano Diretor de São Paulo

Depois de muito bate-boca, entre os vereadores, sobre assuntos vários, temos:
.... No fim da sessão, o lider do governo, José Police Neto (PSDB), afirmou que as diferenças políticas deveriam ser deixadas de lado para a votação do Plano Diretor, que prevê novas diretrizes ao crescimento da capital. " A única forma de contribuirmos de modo mais eficaz no combate ao que estamos vivendo todos os dias com as chuvas é a votação do Plano Diretor, que reduz a possibilidade de impermeabilização de novas áreas", afirmou. Carlos Apolinário, líder do DEM, fez o mesmo apelo. "Não dá mais para esperar. Já realizamos 40 audiências, só falta votar", declarou. Para a maior parte dos líderes, porém,dificilmente o projeto será votado duas vezes neste ano. "Falta acordo entre as lideranças", disse o líder do PT".
Esqueceram-se os nobres vereadores de explicitar qual Plano Diretor pretendem votar. O documento em análise na Câmara é mais do que tudo "uma carta de intenções". Conhecendo-se o Legislativo pelas suas práticas passadas e não dignas de admiração (claro, sempre há exceções), isto pode dar margem à infindáveis "emendas parlamentares" que modificariam, a seu bel prazer, o uso e ocupação do solo da cidade, no atendimento a interesses do mercado imobiliário que, no mais das vezes, passam ao largo dos interesses maiores da população. Voltamos a reiterar que o caminho mais correto seria a devolução da minuta do PDE que se encontra na Câmara ao Executivo para que, com o apoio das equipes técnicas, revejam pressupostos, parâmetros e critérios (e o que estamos vivendo em nossa cidade mostra que as condições para o planejamento urbano são outras), reencaminhando ao Legislativo e sociedade civil um novo documento, produto de uma reflexão em novas bases conceituais.

Um pouco da obra do Sr. Talim .... - oficina de trabalho (Bairro Siciliano)


















(Fotos de Alvaro Kopezynski)

Mais um exemplo de reconversão bem sucedida do patrimônio da Lapa: Estação Ciência (tombada pelo Condephat e Conpresp_





A Estação Ciência ganhou esse nome por ocupar parte de um conjunto de edificações ao lado da ferrovia. Ali, vagões de trem chegavam nas plataformas, até hoje existentes, para carregar e dar escoamento, por exemplo, à produção da pioneira fábrica têxtil, no começo do século passado. Constitui-se, portanto, num patrimônio de valor inestimável. É bom lembrar que os movimentos de cidadania têm tido muitas dificuldades em convencer o poder público da importância da preservação do patrimônio da cidade de São Paulo, como bem se pode perceber nos embates recentes entre o Conpresp e a Câmara de Vereadores no processo de revisão do PDE - Plano Diretor Estratégico de São Paulo e dos PREs - Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, cuja alterações, segundo especialistas, favorecem a especulação imobiliária. Em 2007, a Estação Ciência comemorou seu vigésimo ano de funcionamento, com uma história de pioneirismo, criatividade e sucesso na divulgação da ciência e da tecnologia de forma lúdica e diversificada para todos os tipos de público. Hoje, já são mais de 400 mil visitantes por ano em suas exposições e atividades. A Estação Ciência tem sido uma parceira importante para semear a consciência da preservação ambiental e a importância da ética para com o futuro do nosso planeta e das futuras gerações que nele viverão. O Mover tem, ao lado de tantas outras entidades da sociedade civil, alertado para a importância, neste momento delicado por que passa a Terra, de lutarmos por bairros e cidades saudáveis e sustentáveis, que garantam qualidade de vida aos seus moradores e respeitem o meio ambiente e a capacidade de suporte do planeta. Por ocasião do aniversário da Estação Ciência e das comemorações do aniversário da Lapa (417 anos), em outubro de 2007, o Mover presenteou a Estação com uma maquete do edifício da própria Estação, feita por Silvio Tambalo ("Talim"), artesão e artista plástico da nossa comunidade, 75 anos, morador do bairro Sicialiano, integrante do movimento e que muito tem ajudado na preservação da memória da Lapa e região.









1 de fevereiro de 2010




Campo Belo (MG) - exemplo de reconversão do patrimônio histórico: Atendendo à solicitação do Mover, o arquiteto Marcio Vinicius Reis enviou algumas imagens de um projeto elaborado por ele, em parceria com o também arquiteto Antonio de Padua Felga Fialho, na sua cidade natal, Campo Belo, em Minas Gerais. Este projeto consistia na reconversão do antigo prédio da estação ferroviária em um Museu e Arquivo Público, de acordo com a designação da prefeitura local. O museu conta um pouco da história da cidade e ocupa a área antes destinada ao depósito de cargas e o arquivo público a outra ala. O projeto contemplava um pequeno auditório e café que, infelizmente, não foram construídos. Atualmente, o arquivo público é referência no estado de Minas Gerais, graças à sua sistematização e organização, além da competência e dedicação dos funcionários ali lotados. Agradecemos ao colega Marcio por ajudar a subsidiar nossas reflexões e proposições no que concerne à reconversão das instalações da Fábrica Companhia Melhoramentos.